Sinta-se beijado(a)

A língua é o único músculo que diz a que veio. Eu falo o que penso, eu conto o que vejo, eu compartilho o que gosto, eu exponho meu modo eu me mostro. É um espaço meu, seu, é universal assim como o Beijo! Fique a vontade e divirta-se!

14 de dez. de 2012

Das sutilezas do Jardim ao encontro do caminho Feliz.


             
 Entrei na SP sem saber praticamente nada sobre teatro e estou saindo da escola compreendendo um novo mundo, e melhor, me enxergando nesse novo universo. Desde os primeiros momentos em sala uma pergunta começou a surgir e só agora começa a ser respondida, “que artista eu quero ser?”.
 Ainda vou demorar pra responder, mas a partir do livro que me foi indicado “O Ator Criador” de Reinaldo Maia, uma nova perspectiva e muitas coisas começam a fazer sentido. Estou começando a criar meus métodos de ser uma atriz que propõe e não só recebe missões e as cumpre. Como me disseram uma vez, eu faria muito bem qualquer papel, mas que graça teria ser apenas engenheira da atuação e não arquiteta. “O fazer teatral transformado em mero produto comercial pouco exige de seus criadores/fazedores...”.
 Durante esses dois anos na escola, no curso de Humor me percebi nesse lugar de aprendiz-observadora e me coloquei somente quando achava necessário, aprendi que a palavra é muito importante pra ser jogada, e se não tenho nada interessante pra dizer, o silêncio é a melhor opção. “O entendimento de que o cultivo da espiritualidade, do silêncio e do estar consigo mesmo são partes fundamentais do ofício teatral.” 
 Muitas frases do livro me fizeram entender o caminho de ser uma artista-criadora, segue algumas:
A arte só se credencia quando nasce de um impulso profundo.
Distante do mundo e comprometido com ele.
A aceitação da jornada que coloca cada um frente a suas novas verdades.
Saber controlar a Razão/Intuição, Trevas/Luz, Bem/Mal é a sua possibilidade de representar.
O processo é tão importante quanto o resultado.
Processo e resultado não se distinguem são etapas dessa busca, da essência do ofício de representar.
A mudança qualitativa de ser do ator que o transformará em ator criador.
Quem fala através de imagens primordiais, fala como se tivesse mil vozes.
Ator criador é capaz de transformar seu ato criativo em voz da humanidade e não em manifestação individual.
Veio aqui para servir a arte e fazer sacrifícios por ela ou para explorar seus próprios fins pessoais?




 Quero muito conseguir responder essa última frase com convicção, mas no momento consigo me ver nos dois caminhos, a que propõe e a que faz. Essa busca só está começando e aqui ou em Rio Branco minha pesquisa será pelo humor, pela música, pela união das duas coisas e pelo fazer bem a quem assiste, ou fazer refletir, ou simplesmente fazer por amor. O teatro entrou na minha vida pra ficar.
 Mas nem tudo são flores, acho que vale a pena comentar pontos negativos até pra reflexão de quem faz a escola acontecer. Em muitos momentos me vi desestimulada pela falta de atenção e foco em sala, dos colegas aprendizes, a sala de humor sempre foi de muita falação, risos e piadinhas, não que isso seja totalmente ruim, aliás, sempre fui à aluna que deu trabalho e sentava no fundão com os meninos pra bagunçar mesmo. Mas nessa escola, que eu escolhi estar e felizmente fui aceita minha postura foi de presença quando em sala, ou fora dela quando referente ao estudo. E muitas vezes foi difícil estar em sala por conta desse comportamento quase infantil que pairava sempre. Dentro dos experimentos um incômodo comum nos quatro módulos, a falta de compromisso com horário, presença e todos entenderem o que se passa em cada área. Também me senti prejudicada pelos cursos de Extensão onde me inscrevi para alguns e não entrei, inclusive um que me foi pedido juntamente com esse trabalho. Tenho certeza que teria sido um adicional a mais na minha experiência com a escola.
 Não importa me apeguei a tudo de incrível que foi construído em conjunto, tanto nas experimentações, onde me diverti muito em cena quanto ao que foi doado pra nós com pessoas tão fantásticas como Juliana Jardim, Roberto Anzai, Bete Dorgam, Dagoberto Feliz e as poucas visitas de Raul Barreto, mas tão significante quanto. Falar dessas pessoas é dizer obrigado a elas, por tudo que vi e aprendi só de estar na presença desses artistas-criadores tão excepcionais.
 Entendi que ser generoso é das maiores qualidades no teatro, que cantar é ainda mais gostoso quando se apropria do espaço, que o corpo cotidiano não é interessante, e que presença não é assinar uma lista, que ser palhaço é um estado de espírito tão profundo e rico que me faz querer uma busca ainda maior por esse lugar e que a arte do improviso é muito mais poderosa quando se tem pessoas tão boas pra jogar como nessa turma de Humor. Das sutilezas do jardim ao encontro do caminho feliz, é assim que resumo minha vivência nessa escola tão rica e generosa. Obrigada a todos que fizeram parte dessa minha caminhada e espero ter muitos por perto mesmo a 5.000 km de distância. Bem-vindos ao ACRE.



Claudia Santos Bártholo aprendiz de humor da SP-Escola de Teatro, formanda 2012.