Começava
o dia de mais um aniversário, pela manhã já estava planejando uma
cerveja a noite se o trabalho permitisse. As 10:12 recebo uma
mensagem que me tira o ar e o chão, mas com uma esperança que durou
8 minutos, segundo informações ele ainda estava vivo e 8 minutos
depois a mensagem dizia: ele morreu.
O
meu melhor amigo, meu irmão, morreu, não, "ele se jogou da janela do
quinto andar. Nada é fácil de entender..."
A
pessoa mais espetacular e genial desse planeta foi embora num impulso inexplicável, algo maior fez parte dessa tragédia.
Segurei dois segundos e desabei no choro mais denso e sofrido de toda a minha vida, o chão se abriu diante de mim e até agora estou em queda livre... continuo caindo nesse abismo da dor e da saudade de você.
Segurei dois segundos e desabei no choro mais denso e sofrido de toda a minha vida, o chão se abriu diante de mim e até agora estou em queda livre... continuo caindo nesse abismo da dor e da saudade de você.
Agora
reflexiva tenho certeza que ele perdeu a lucidez e por isso teve tal
impulso. Ele amava viver, amava a vida, as flores, amava dançar,
cantar, amava os amigos, a família e os sobrinhos tinha verdadeira
paixão.
Porque
então? Só ele sabe das dores e demônios internos que o perseguiam
e eu não tenho direito de julgá-lo por nada disso, ninguém tem.
Começaram
as ligações de “parabéns”, as mensagens nas redes sociais, meu
dia se preenchendo de aniversário, mas parabéns porque? A vida
tinha ceifado e não tinha mais cor, não tinha mais sabor, nem
cheiro, nem nada, aquele dia tão esperado, os 29 anos sendo
completados e a vida estava vazia de mim, vazia dele, vazia.
Ele
se foi no dia em que eu deveria celebrar mais um ano de vida, e desse
aniversário pra toda a eternidade vou lembrar mais um ano de sua
morte, de sua trágica e precoce partida. Uma revolta inicial tomou
conta de mim, e assumo meu egoísmo de pensar que ele resolveu fazer
“aquilo” justo naquele dia. Mas ele não sabia o que fazia, muito
menos que dia era... Me perdoe meu amor por não saber do que se
passava em sua vida.
Foi
extremamente difícil conciliar o dia de congratulações com os
pêsames... eu chorei a cada parabéns e um nó se fez a cada abraço
apertado que ganhei. Os amigos aos poucos foram se sensibilizando de
que aquele não seria mais um aniversário, seria outra coisa, e cada
gesto foi se tornando uma luz pra que eu seguisse por ela, e assim o
fiz. Ganhei festa no trabalho, desabei no mini discurso, mas me
permiti a partir dali viver o meu aniversário, de forma quase
isolada mas o fiz. Liberaram a cerveja já no serviço e tratei logo
de ficar bêbada e esquecer aquele maldito dia 10, pra sempre meu
dia, pra sempre sua partida.
Em
nenhum momento agradeci aos que vieram me felicitar pelo meu dia,
deixo aqui o meu MUITO OBRIGADA, vocês não fazem ideia do quanto
foi importante cada mensagem, ligação etc... Me deu força!
Obrigada também aos meus companheiros de trabalho que me mantiveram
forte e continuam me dando a força que eu preciso. Aliás se não
fosse minha dedicação no trabalho eu nem sei. Obrigada!
A
primeira vez que conversamos, eu estava ajudando um amigo da escola
que era amigo dele, e Marcos nos deu uma carona certo dia, devia ter
entre 15 e 16 anos... eu no banco de trás, ele me olhava pelo
retrovisor e dizia: tu é muito linda menina, parece uma boneca!
Outra
cena que estivemos juntos e que me lembro bem antes de firmar nossos
laços, foi lá em Fortaleza do Abunã, ele estava deitado na areia
com o Derico, e ele me chamou e relembrou o dia da carona e dai
conversamos um tempão... agora ele e Derico devem estar numa boa.
E
com o intermédio da Dandan fomos nos tornando uma coisa só.
Quando
fui embora pra Florianópolis, logo depois ele me procurou dizendo
que ia se mudar pra lá, fui sua base de chegada, seus primeiros
amigos foram meus primeiros amigos e construímos nossa família
catarinense/acreana...
Na
Ilha da Magia curtimos intensamente aquele paraíso, muitas festinhas
onde ele recepcionava lindamente a todos, participou do
relacionamento mais louco que já tive e viu minha transformação de
menina pra mulher...
Quantas
noites rodando e cantando naquela Concorde e aquela pista giratória
bafônica...
Juntos
e inseparáveis, eu, ele, Alequiz, Márcio (in memorian), Ricardo,
Ju...
Eu
disse adeus pra Floripa mas lá voltei algumas vezes sempre pra estar
com ele...
Fora
isso sempre demos um jeito de nos encontrar, no Acre, em Floripa, Rio
ou São Paulo... vivemos uma vida de bom humor, alto-astral, nunca
brigamos, nunca discutimos, sempre compartilhamos de muita
cumplicidade e um amor perfeito.
Uma
vez fui a São Paulo pro show da Madonna e dividimos o mesmo quarto
de hotel, naquela noite fazendo aquele esquenta pré balada pra ir a
The Week, ele disse: tu tem que ouvir isso!
E
me mostrou vários clipes da Amy Winehouse, eu não conhecia nada
dela, apaixonei na hora...
Nunca
esqueço no dia que ele me levou pra comer a melhor coxinha e
queijadinha de Sampa, na Haddock Lobo...
Uma
noite jantamos num restaurante francês com uma turma grande, amigos
do Acre, de Sampa, a Dani estava e tenho as fotos desse dia, depois
de anos me vi curtindo com os tais amigos do Acre, ele era um
agregador de gente.
Mudei
pra São Paulo e dali passaríamos a nos ver com mais frequência
pois ele estava sempre por lá...
Na
minha primeira desilusão amorosa nas terras paulistas foi pra ele
que eu corri, me mandei pra Floripa afim de curar minha dor, me ouviu
chorar quando ela ligou pra saber como eu estava após o brutal
término, me aconselhou...
Um
dia ele me diz que está indo de vez morar em São Paulo, eu já
sabendo que voltaria pro Acre, não disse nada e segui aquele tempo
vivendo ao lado dele, com ele todo pra mim sempre...
Confesso:
farreamos muito! Conhecemos tanta gente, as festas no seu apartamento
foram as melhores que fui, a gente cantava até de manhã né
Tarcisio? E as conversas rolavam solta, hora na janela, hora na
cozinha, hora em pé dançando horrores, diz aí Cadu? E dançava,
simplesmente a gente dançava na sala... levei minhas amigas pra lá,
ficaram pra sempre.
Íamos
ao cinema com frequência, a gente andava por tudo que era lugar,
minha vivência em São Paulo com ele foi infinitamente mais
enriquecedora.
Nos
meses finais de meus estudos tive que entregar meu apartamento antes
do tempo, ele ofereceu a sua casa pra que eu ficasse, fiquei com ele
2 meses, os melhores da minha vida... aprendi o que era felicidade e
qualidade de vida.
Marcos
não tinha “tempo ruim” acordava todos os dias cantando, ligando
o som e ouvindo suas músicas favoritas, sim ele dançava de manhã
todos os dias. E de noite também. A vida era linda perto dele. Pela
manhã fazia café na cafeteira, torrava pão na torradeira e comia
um com manteiga e um com geléia, ou com ”Maple Syrup”, aquela
calda de usar em waffles que a gente vê nos filmes, ele havia
comprado um frasco em Toronto no Canadá e estava fissurado naquilo.
Abria seu macbook e lia as notícias do mundo, ou folheava as
revistas que assinava, tratava de se informar todos os dias enquanto
tomava seu café da manhã, era um ritual. Não era de cozinhar, mas
era o rei dos petiscos nos esquentas da balada e também odiava lavar
a louça, mas sempre gostava de ver a casa organizada, cheirosa. Eu
nessa temporada raramente deixava ele fazer alguma coisa de casa, eu
dava um jeito. Ele chegava do trabalho ligava o som se organizava e
ia correr, na volta, mais música e ia pro banho, depois saía pra
jantar ou badalar, ia ver algum filme, namorar, ou ficava de papo
comigo na sala, até o sono vir. Vivia intensamente cada dia.
Estava
sempre bem vestido, com uma roupa nova, lindo e pronto pra curtir a
vida.
Ainda
nessa fase de roomate, de vez em quando me dava carona até o metrô
perto do seu trabalho e nesse trajeto íamos cantando alguma coisa
animada, vai ficar marcado ele cantando pra mim Björk: “It's Oh So
Quiet”, ele dublava e me dava um susto em cada grito da música! E
eu morria de rir!
Estava
sempre recebendo visita de alguém de algum lugar do mundo, ele foi o
melhor anfitrião que eu já conheci. A casa raramente estava vazia e
sempre tinha flores.
Sua
decoração era impecável, parecia decoração de revista, livros de
arte, plantas e tudo com a luz certa, fotos, quadros e imagens
completavam o cenário que era sua casa, seu lar num lugar chamado
Jardins.
Quando
me mudei pra lá acabei levando um monte de tralha, mas algumas
coisas se encaixaram perfeitamente no seu ambiente, um biombo que
transformou a biblioteca num outro quartinho pra hóspedes e o
ventilador vintage que salvou o verão paulistano.
Recebeu
minhas namoradas em sua casa e dava sempre um esculacho inicial pra
garantir que ninguém me machucasse. Se apaixonou pela "A" junto
comigo e fez ela se sentir em casa todas as vezes que ia pra lá,
tirou fotos da gente de pijama e filmou a gente tomando banho juntas.
E morria de rir narrando o vídeo depois.
Ele
me esculhambava muito quando me via num traje meio masculino, ou
quando falava igual homem mesmo hahaha e brigava mais ainda se
namorava alguma garota com trejeitos de menino. Ele amava me ver
extremamente feminina, vou continuar honrando a minha natureza por
mim e por ele.
Tinha
orgulho quando eu “pegava” a mais gata da balada e sempre
comentava isso nas rodas: o quê? Claudia não deixa escapar uma,
todas querem ela na night, esse picumã arrasa meu amor.
Ele
me achava linda, mesmo nos dias em que eu me achava o ser mais sem
graça da terra.
Amava
quando eu usava meus cachos, mas adorou um dia que inventei um coque,
o que ele dizia sobre moda, vestimenta ou qualquer outra coisa, pra
mim era lei, e nunca me permiti errar nisso pra não decepcionar ele.
Marcos
via em mim o que eu tenho de melhor, sempre dizia que me amava e o
quanto eu era linda, e achava um absurdo eu usar maquiagem, porque eu
não precisava daquilo.
Em
todo lugar a gente andava abraçado e de mãos dadas, nunca vou
esquecer de como seus dedos grossos de homem se encaixavam na minha
mão grande e magrela.
No
casamento da Renata, irmã da Fer, as pessoas acharam que éramos um
casal, estávamos ambos de roupas estampadas, o casal tropicália,
tiramos ótimas fotos na máquina de revelação instantânea. Linda
noite em Itu.
Foi
assistir minha peça de encerramento do curso de teatro e foi lindo
ver o orgulho dele por mim, ele era minha torcida, minha inspiração,
minha força pra que eu continuasse vencendo na selva de pedra. Que
tristeza saber que nunca vou interpretar uma peça escrita por ele,
pois essa era sua ambição do momento, viver para escrever...
Ele
cuidou de mim, me apoiou, me ouviu, me incentivou, me deixou pra
cima, e fez de tudo pra que eu seguisse me tornando uma linda mulher
e vencedora como ele.
Ultimamente
ele andava muito inspirado, sempre escrevendo e me confessou estar
escrevendo uma peça de teatro, e sabia exatamente o que ia acontecer
em cada cena. O texto seria um monólogo sobre o término de uma
relação, que viria a ser um musical e a trilha sonora está no
“Spotify” pra quem quiser ouvir em “Brasileiras”.
Outra dor dilacerante é ter sentido ele tão perto recentemente, estávamos de fato conectados, sempre conversando, quando um pensava no outro lá estávamos fazendo presença, um dia lhe mandei uma música sabendo que ele ia amar, e a resposta foi simples: tu entendeu tudo o que eu queria agora!
ESCUTEM e procurem traduzir: https://www.youtube.com/watch?v=rjolxXHRtd0
Outra dor dilacerante é ter sentido ele tão perto recentemente, estávamos de fato conectados, sempre conversando, quando um pensava no outro lá estávamos fazendo presença, um dia lhe mandei uma música sabendo que ele ia amar, e a resposta foi simples: tu entendeu tudo o que eu queria agora!
ESCUTEM e procurem traduzir: https://www.youtube.com/watch?v=rjolxXHRtd0
Me apresentou pessoas fantásticas, por causa dele tenho a Val, o Cadu, a Fer, o Chris, o Gus e por causa do Gus tenho o André, me aproximei do Rildo... e agora por conta dessa tragédia ele me trouxe a Carol, me reaproximou da Dani e de outros e fez até eu fazer as pazes com o meu irmão que não tem nada a ver com a história... mesmo partindo continua agregando.
Se
um dia eu vier a casar ele já não vai estar no altar como padrinho,
sorte do Gus que o teve...
Ele
que me apresentou as melhores coisas da vida, me introduziu Amy
Whinehouse, Inner City escuto sem parar por causa dele e o gosto pelo
house 90 ficou mais forte com sua influência, sem falar no
Jamiroquai que também virou xodó depois dele, vimos o show juntos
em SP. Uma enciclopédia musical, ouvia música 24 horas por dia, e
ouvia coisas novas. Tava sempre me enviando links de clipes, músicas
e depois do “Spotify” ferramenta que infelizmente usei pouco com
ele, mas seu legado está lá, escute!
Muitos
dos filmes e séries mais interessantes que vi foram indicações
dele: Tomboy, Behind the Candelabra, Amores Imaginários, House of
Cards...
Em
cada nova música boa que for feita, em cada filme espetacular que
for rodado, em cada história de amor avassaladora, ele vai estar...
Sabíamos
de cor os textos de 'Terça Insana' e alguns do 'Porta dos Fundos'...
repetíamos as frases nos contextos de nossas vidas, diariamente.
Me
dói pensar que nunca vou à Nova York com ele, compromisso que
havíamos marcado e que se eu ousasse ir sem ele a coisa ia ficar
preta...
Nosso
bar nunca vai abrir, mas só ia tocar house se dependesse dele,
talvez a gente brigasse porque eu ia querer que tocasse deep house...
Sua
morte mata parte do que sou, pois aprendi a ser, aprendi a ver a vida
através do seu olhar.
Se
eu tiver um filho homem o nome Marcos vai ser o primeiro da lista.
E
desde já estou pensando numa tatuagem que faça jus a ele, Marcos há
de ficar no meu corpo feito tatuagem.
Marcos
Matos Maciel - 37 anos - Foi o cara mais sensacional, espetacular,
excepcional, extraordinário, fabuloso, fenomenal, genial,
inteligente, bonito, lindo, charmoso, simpático, educado, esperto,
sagaz, astuto, verdadeiro, honesto, sincero, crítico, amável,
engraçado, diferente, original... ÚNICO!
Melhor filho, irmão, tio, amigo, companheiro, confidente, conselheiro...
Melhor filho, irmão, tio, amigo, companheiro, confidente, conselheiro...
Sua
risada e seu bom humor estão em forma de arquivo de áudio. Um salve
a tecnologia, pra sempre terei sua sua gargalhada. "Meu cuuuuuuuuuuu hahahahahaha".
Conquistou
tudo o que tinha com muito esforço e dedicação, estudo, era um
devorador de livros, filmes, música, arte e cultura. Falava línguas,
sabia muito de tudo.
Dava
amor no balde pra todos que o cercavam.
Menino
nascido em Sena Madureira, interior do Acre mas que vivia no mundo,
num universo só seu e talvez por isso tenha ido cedo, pois aqui já
não tinha mas nada pra absorver, deixa seu legado de sabedoria,
verdade e amor.
Agora
venho buscando força nas palavras, nas pessoas, nas canções, na
letras das músicas, no vento, nas flores... busco força pra
levantar todo dia de manhã, busco força nos amigos em comum, busco
força dentro de mim, mas principalmente busco força pra que eu
possa dar força a ele, seja lá onde ele estiver.
Cada
dia mais me convenço em vida após a morte, porque eu quero e
preciso acreditar que ele agora é o vento, é o sol, é uma estrela
que brilha bem forte, é a luz, ele é a natureza, ele é a vida, ele
é cada pétala de flor em cada jardim desse mundo. Ele é o meu
jardim. Ele vai ser a terra que eu pisar descalça, o ar que eu
respirar, a água de cachoeira, rio e mar que eu me banhar.
Marcos
agora é onipresente.
Te
amo por toda a minha vida e além dela.
Vou viver mais por nós 2!
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Lembra da nossa última conversa? Foi aqui e pra sempre será um lugar pra gente se encontrar e eu te encher de amor e flores!
"CANTINHO DA LUZ"
6 comentários:
Lindo... emocionante...simplesmente traduziu ele em palavras. Ficará na nossa memória.
Lindona, não vou me cansar de repetir, vc é foda! Traduziu o que o Má é, foi e sempre será pra qq pessoa que tenha tido a felicidade de cruzar seu a caminho.
Te amo. Pq o amor dele nos uniu pra sempre.
Eu consegui ver cada momento desse. Indescritível. ;~
Sinta-se feliz por te-lo conhecido e vivido momentos unicos ao lado de pessoa tão especial.
Avante e com muita musica boa!
Sinta-se feliz por te-lo conhecido e vivido momentos unicos ao lado de pessoa tão especial.
Avante e com muita musica boa!
Menina linda da tia, só hoje li o que você escreveu sobre a sua vida com o Marcos. Ta tudo ali! Dizer mais o que ? Mas mesmo assim, com dor, saudades e tristeza, uma Ode a Vida, foi o que você fez. Viva mesmo querida, com todas as tristezas e alegrias, a vida e assim mesmo! Não da moleza, não. E a gente que se vire para viver! Amo você sempre. Adelaide Albuquerque
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