Entrei na SP sem saber praticamente nada sobre
teatro e estou saindo da escola compreendendo um novo mundo, e melhor, me
enxergando nesse novo universo. Desde os primeiros momentos em sala uma
pergunta começou a surgir e só agora começa a ser respondida, “que artista eu
quero ser?”.
Ainda vou demorar pra responder, mas a partir
do livro que me foi indicado “O Ator Criador” de Reinaldo Maia, uma nova
perspectiva e muitas coisas começam a fazer sentido. Estou começando a criar
meus métodos de ser uma atriz que propõe e não só recebe missões e as cumpre.
Como me disseram uma vez, eu faria muito bem qualquer papel, mas que graça
teria ser apenas engenheira da atuação e não arquiteta. “O fazer teatral
transformado em mero produto comercial pouco exige de seus
criadores/fazedores...”.
Durante esses dois anos na escola, no curso de
Humor me percebi nesse lugar de aprendiz-observadora e me coloquei somente
quando achava necessário, aprendi que a palavra é muito importante pra ser
jogada, e se não tenho nada interessante pra dizer, o silêncio é a melhor opção. “O entendimento de que o cultivo da espiritualidade, do silêncio e do
estar consigo mesmo são partes fundamentais do ofício teatral.”
Muitas frases do livro me fizeram entender o
caminho de ser uma artista-criadora, segue algumas:
A
arte só se credencia quando nasce de um impulso profundo.
Distante
do mundo e comprometido com ele.
A
aceitação da jornada que coloca cada um frente a suas novas verdades.
Saber
controlar a Razão/Intuição, Trevas/Luz, Bem/Mal é a sua possibilidade de
representar.
O
processo é tão importante quanto o resultado.
Processo
e resultado não se distinguem são etapas dessa busca, da essência do ofício de
representar.
A
mudança qualitativa de ser do ator que o transformará em ator criador.
Quem
fala através de imagens primordiais, fala como se tivesse mil vozes.
Ator
criador é capaz de transformar seu ato criativo em voz da humanidade e não em
manifestação individual.
Veio
aqui para servir a arte e fazer sacrifícios por ela ou para explorar seus
próprios fins pessoais?
Quero muito conseguir responder essa última
frase com convicção, mas no momento consigo me ver nos dois caminhos, a que
propõe e a que faz. Essa busca só está começando e aqui ou em Rio Branco minha
pesquisa será pelo humor, pela música, pela união das duas coisas e pelo fazer
bem a quem assiste, ou fazer refletir, ou simplesmente fazer por amor. O teatro
entrou na minha vida pra ficar.
Mas nem tudo são flores, acho que vale a pena
comentar pontos negativos até pra reflexão de quem faz a escola acontecer. Em
muitos momentos me vi desestimulada pela falta de atenção e foco em sala, dos
colegas aprendizes, a sala de humor sempre foi de muita falação, risos e
piadinhas, não que isso seja totalmente ruim, aliás, sempre fui à aluna que deu
trabalho e sentava no fundão com os meninos pra bagunçar mesmo. Mas nessa escola,
que eu escolhi estar e felizmente fui aceita minha postura foi de presença
quando em sala, ou fora dela quando referente ao estudo. E muitas vezes foi
difícil estar em sala por conta desse comportamento quase infantil que pairava
sempre. Dentro dos experimentos um incômodo comum nos quatro módulos, a falta
de compromisso com horário, presença e todos entenderem o que se passa em cada
área. Também me senti prejudicada pelos cursos de Extensão onde me inscrevi para
alguns e não entrei, inclusive um que me foi pedido juntamente com esse
trabalho. Tenho certeza que teria sido um adicional a mais na minha experiência
com a escola.
Não importa me apeguei a tudo de incrível que
foi construído em conjunto, tanto nas experimentações, onde me diverti muito em
cena quanto ao que foi doado pra nós com pessoas tão fantásticas como Juliana
Jardim, Roberto Anzai, Bete Dorgam, Dagoberto Feliz e as poucas visitas de Raul
Barreto, mas tão significante quanto. Falar dessas pessoas é dizer obrigado a
elas, por tudo que vi e aprendi só de estar na presença desses
artistas-criadores tão excepcionais.
Entendi que ser generoso é das maiores
qualidades no teatro, que cantar é ainda mais gostoso quando se apropria do
espaço, que o corpo cotidiano não é interessante, e que presença não é assinar
uma lista, que ser palhaço é um estado de espírito tão profundo e rico que me
faz querer uma busca ainda maior por esse lugar e que a arte do improviso é
muito mais poderosa quando se tem pessoas tão boas pra jogar como nessa turma
de Humor. Das sutilezas do jardim ao encontro do caminho feliz, é assim que
resumo minha vivência nessa escola tão rica e generosa. Obrigada a todos que
fizeram parte dessa minha caminhada e espero ter muitos por perto mesmo a 5.000
km de distância. Bem-vindos ao ACRE.
Claudia
Santos Bártholo aprendiz de humor da SP-Escola de Teatro, formanda 2012.